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Castelo de Silves

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30.10.10 Por Andreia Marques Pereira

É quase impossível esquecer o Castelo de Silves, por muitos castelos que se vejam: a sua cor avermelhada - da pedra utilizada na sua construção, o grés de Silves - fica na retina quando todas as outras memórias se desvanecem. Do mesmo modo, pode ser uma estátua de D. Sancho I, que nos recebe à entrada, mas é impossível esquecer quem fundou o castelo que se tornou definitivamente português em 1253, com D. Afonso III, mas que mantém a arquitectura base.


É uma fortaleza islâmica na sua raiz - e é na reforma do final do século XII, início do século XIII, que ganha o perfil que ainda mantém, explica Mário Jorge Barroca - e quanto mais se escava mais se desenterram as glórias deXelb, capital de duas taifas (reinos autónomos).

Desta, destruída em conquistas e reconquistas, o que não há nas ruas, sobra na literatura: Xelb, centro cultural de charneira, pólo de atracção para artistas, intelectuais, músicos, escritores, cidade próspera por cujos bazares passavam objectos de todo o mundo então conhecido (alguns restos podem ser admirados no Museu Municipal de Arqueologia), maravilha arquitectónica coberta de palácios - o mais esplendoroso de todos, o "Palácio das Varandas", repetidamente referido na poesia árabe, nomeadamente de Al- Mutamid e Ibn Anmar.

Vamos chegar lá depois de passarmos a porta principal da alcáçova, bem no topo da cidade alva, que outrora foi protegida por outros três panos de muralhas - dois sucessivos e uma couraça a uni-los -, abrangendo a almedina (12 hectares), dos quais restam o Torreão da Porta da Cidade e pequenos troços (como o que está na biblioteca municipal). Antes passámos pela sé, que terá sido construída em cima da mesquita, também ela marcada pela pedra avermelhada na sua frontaria.

Duas torres protegem a entrada - que, na verdade, é dupla e alberga a recepção (onde se podem levantar áudio-guias para o castelo e cidade) e loja - e depois de uma pequena rampa chegamos ao enorme pátio. Vêem-se ruínas de um lado, do outro jardins em construção recente, como a tijoleira denuncia - e ambos são resultado da mais recente intervenção no castelo, concluída em 2009. As ruínas são vestígios de construções islâmicas - o Palácio das Varandas é uma das possibilidades, dado o fausto e o requinte que as escavações de Rosa Varela Gomes revelaram - agora arranjados de forma a serem visitáveis. Há um percurso entre elas e uma reconstrução pequena, branco a contrastar com o vermelho dos originais, do que teria sido um arco do palácio.

É necessário menos imaginação para "ver" os jardins do palácio: o arranjo paisagístico recria um jardim de raiz muçulmana, as cores e os cheiros sobretudo, e por isso agora avançamos em pequenos caminhos entre pimenteiras, romãzeiras, loendreiros, laranjeiras, limoeiros, figueiras, alecrim, mirtilos, hortelã, roseiras e até canas-de-açúcar (cuja plantação foi ensaiada nestas paragens por altura dos Descobrimentos) - hoje não vemos a água, que deveria correr pelos estreitos canais e sob a nova casa de chá, e ainda faltam as placas informativas com indicação dos nomes das plantas, origens e o motivo de estarem aqui.

A enorme tília do outro lado do pátio está aqui desde antes da reconstrução, é emblema do castelo, e fornece sombra às ruínas e a uma parte da muralha, onde subimos. Do caminho da ronda, pontuado por várias torres, vêem-se os laranjais nas traseiras do castelo (e, já na colina, percurso recente que permite a ascensão à fortaleza em passadiço de madeira ziguezagueante), a serra de Monchique de um lado e Portimão do outro, seguindo o curso do rio Arade, que já foi navegável.

E vêem-se sobretudo as torres albarrãs - a palavra de origem árabe é explicativa, "do lado de fora": as torres estão construídas do exterior e unidas à muralha por um arco. Quem está a defender o castelo faz tiro sobre a muralha - sobre os atacantes, portanto - como se estivesse fora. "Uma solução muito engenhosa", considera Mário Jorge Barroca.

Engenhosa é também a cisterna: abóbadas impressionantes e alvura imaculada que visitamos sobre água, num piso transparente. Diz-se que tinha autonomia para um ano e até aos anos 90 ainda abastecia a cidade. Diz-se também que todas as noites de São João se ouvem aí os lamentos de uma princesa moura.

No segundo monumento mais visitado do Algarve (a seguir à fortaleza de Sagres), ainda se vislumbra a capital do Garb-Al-Andaluz.



Última actualização a 10-11-2014
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